Evento reuniu, em Brasília, especialistas, empresários, auditores e autoridades para debater os caminhos da descarbonização e o papel da inteligência artificial na modernização do transporte brasileiro
“Tanto a transição energética quanto a inteligência artificial não são temas do futuro, mas, sim, do presente.” A fala do presidente do Sistema Transporte, Vander Costa, marcou a abertura do 5º FIT (Fórum ITL de Inovação do Transporte), realizado nessa quarta-feira (15), em Brasília. Com o tema “Transição energética na era da inteligência artificial”, o evento reuniu empresários, autoridades, especialistas e pesquisadores para discutir os rumos do transporte brasileiro diante das transformações tecnológicas e ambientais.
Promovido pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística) em parceria com a CNT e o SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), o encontro reforçou o papel estratégico do setor nas metas de descarbonização e na adoção de tecnologias sustentáveis.
Na abertura, Vander Costa destacou que o transporte brasileiro iniciou sua transição energética há décadas, com políticas de redução da poluição e da dependência do petróleo. Segundo ele, o país já avançou significativamente na diminuição das emissões. O presidente também anunciou que o Sistema Transporte levará à COP30, em Belém (PA), estudos como o Inventário Nacional de Emissões do Setor de Transporte.
“Um ônibus moderno polui 95% menos do que os veículos antigos. O Brasil já faz mais do que muitos países desenvolvidos nessa agenda. O caminho é buscar o carbono neutro e fortalecer o transporte coletivo como eixo da transição energética. E, na COP30, queremos mostrar ao mundo que o Brasil tem potencial de crescimento respeitando o meio ambiente”, afirmou.
O diretor executivo do ITL, João Victor Mendes, ressaltou o papel do Fórum como espaço de reflexão e colaboração. “O FIT é um espaço para pensar o futuro do transporte, mas com os pés no presente. As transformações já estão em curso, e cabe a nós liderar com visão e responsabilidade”, disse.
A diretora adjunta do ITL, Eliana Costa, reforçou que conhecimento e qualificação são essenciais para uma transição justa. “A transição energética é um desafio, mas, também, uma oportunidade. E ela só será justa se houver investimento, preparo e gestores qualificados para tomar as decisões certas”, afirmou.
Expectativas para a COP30
O evento também destacou as ações do Sistema Transporte para a COP30, com foco em resiliência climática, redução de emissões e transição justa. O diretor adjunto nacional do SEST SENAT, Vinicius Ladeira, afirmou que o avanço sustentável depende de políticas públicas baseadas em dados.
“O transporte é parte essencial da solução para o desafio climático. As iniciativas que o Sistema Transporte levará à COP30 mostram que estamos preparados para contribuir, de forma técnica, com informações concretas sobre emissões, resiliência e novos modelos de operação”, afirmou.
A gerente executiva ambiental da CNT, Erica Marcos, apresentou os mais recentes levantamentos da Confederação, que apontam prejuízos em 70% das empresas devido a eventos extremos, e o Inventário Nacional de Gases de Efeito Estufa, que indica que o transporte individual emite dez vezes mais do que o coletivo. “A COP30 será uma vitrine importante. Vamos mostrar que o Brasil já está em movimento e pode ser referência global em soluções sustentáveis”, destacou.
Tendências globais
A professora do Ibmec e especialista em ESG e governança corporativa Lúcia Helena Carvalho abordou os desafios da transição energética, que vão além da tecnologia. “Não basta falarmos em energia limpa. É preciso entender os impactos e as conexões que ela gera, e o transporte tem um papel essencial. Embora o Brasil não tenha o transporte como principal fonte de emissões, ele é determinante para a qualidade de vida e para a eficiência da economia. Precisa ser uma transição justa. Não pode deixar ninguém para trás”, afirmou.
A engenheira ambiental da ABiogás – entidade representativa do setor de biogás e biometano – Talyta Viana destacou o crescimento do biometano, que já atinge produção de cerca de 1 milhão de m³ por dia. “É um energético competitivo, de manutenção simples e ruído 20% menor que o diesel, capaz de substituir o combustível fóssil sem aumento de custos para o produtor”, disse.
O especialista Luciano Figueredo, partner e project manager do Instituto Totum, apresentou o I-Track(G), certificado que reúne informações sobre a origem e a capacidade de produção de biogás e biometano. “Há mais de dez anos, trabalhamos com certificados de energia renovável. Hoje, conseguimos aplicar esses instrumentos para fortalecer a descarbonização das frotas e incentivar o uso de combustíveis de baixo carbono”, afirmou.
Experiências e desafios
No painel “Transição energética no transporte: visões e experiências”, empresários e representantes do poder público compartilharam práticas e desafios na adoção de novas matrizes energéticas e na modernização das frotas.
O CEO da Transcourier, Alessandro Reis, defendeu o melhor aproveitamento logístico no transporte aéreo. “O transporte aéreo movimenta apenas 1% das cargas no Brasil, mas representa 10% do faturamento. Há uma ociosidade enorme nos porões de aviões comerciais. Isso mostra o quanto ainda podemos otimizar o sistema”, afirmou.
O presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, reforçou o papel do transporte coletivo. “Estamos atrasados no debate ambiental. A eletrificação total ainda é inviável no transporte público. O caminho é renovar a frota e tirar os veículos antigos das ruas”, disse.
Já o especialista da Eletrobras Matheus Jasper apontou para a necessidade de planejamento do uso da energia elétrica. “Precisamos valorizar nossa matriz energética com planejamento de longo prazo. A base da geração elétrica brasileira é renovável, mas, quando o sol se põe e os ventos cessam, são as hidrelétricas que, com energia segura e confiável, sustentam o sistema elétrico nacional”, afirmou.
Governança e regulação
O painel sobre governança e transição energética reuniu gestores e parlamentares. O deputado Diego Andrade (PSD-MG), presidente da Comissão de Minas e Energia, da Câmara, destacou que o Brasil tem uma matriz majoritariamente limpa, mas carece de planejamento. “Temos um sistema de energia limpa, mas caro para quem paga. Precisamos de organização e planejamento setorial”, afirmou.
A representante da ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional), Anna Cláudia Garcia, defendeu marcos legais claros para dar estabilidade às políticas públicas. “Para alcançarmos resultados concretos, precisamos de marcos legais que deem estabilidade e segurança às políticas públicas”, ressaltou.
Inteligência artificial no transporte
Encerrando o Fórum, o professor Ricardo Cavallini, da Singularity University, destacou que a inteligência artificial já é uma realidade transformadora. “A IA é um software 2.0. Assim como o carro substituiu a carroça, ela está redesenhando a forma como empresas funcionam”, afirmou.
Ele defendeu o uso ético e estratégico da tecnologia. “As coisas estão mudando muito rápido. O desafio é não usar a IA para piorar o que já é burocrático, mas, sim, para melhorar o que realmente importa. Essa tecnologia é como um aluno genial que leu todos os livros, mas nunca trabalhou. Precisa de supervisão e contexto humano”, completou.
Patrocínios
O FIT 2025 contou com o patrocínio de importantes instituições que compartilham o compromisso com a inovação e o desenvolvimento sustentável do transporte. Apoiaram esta edição o Itaú, ENBPar, Insper, Fundação Dom Cabral, IBMEC, Azul Linhas Aéreas, Instituto Totum, Transpocred, Frota 162 e IGCP, reforçando a relevância do evento como espaço de diálogo, conhecimento e transformação para o futuro da mobilidade.